“À medida que o mercado de carbono valoriza a integridade, o capital vai para onde os impactos positivos crescem”

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MORFO
Junho de 2023

A restauração ecológica de terras degradadas é um aspecto essencial para enfrentar os desafios ambientais. Fundada por Mathias Lessmann, YMBU Agroflorestal é pioneira brasileira no reflorestamento indígena, com foco exclusivo em uma das regiões semiáridas com maior biodiversidade do mundo. Em uma entrevista exclusiva para a MORFO e o white paper sobre O futuro dos créditos de carbono do reflorestamento, Mathias Lessmann fornece informações valiosas sobre as abordagens inovadoras da YMBU para restauração de terras e o importante papel dos créditos de carbono no cumprimento de sua missão.

Quem é você e o que é a YMBU Agroflorestal?

Sou fundador e CEO da YMBU Agroflorestal.

A YMBU é uma empresa brasileira de reflorestamento nativo com 2,8 mil hectares sob gestão no Ceará, Norte do Brasil. Nossa missão é restaurar terras agrícolas degradadas usando soluções baseadas na natureza (NBS) de alta integridade no bioma Caatinga, o bioma semiárido com maior biodiversidade do mundo.

Fomos pioneiros no primeiro projeto de carbono desse tipo no estado do Ceará e nossa ambição é liderar o desenvolvimento do mercado de NBS na região.

Hoje temos 28 pessoas em nossa equipe. Com baixa atividade econômica na região local, a YMBU se orgulha de recrutar e treinar uma talentosa equipe operacional local com 26 membros, dos quais 24 estavam desempregados antes da YMBU. Estamos imensamente orgulhosos da confiança e da colaboração que geramos com a comunidade local.

Olhando para o futuro, nossa ambição é triplicar as áreas de reflorestamento sob gestão até o final de 2024, paralelamente à avaliação de outros projetos, como a restauração de manguezais ao longo da costa do Ceará.

Você pode dar uma breve visão geral do YMBU e dos projetos específicos que você empreendeu para restaurar terras degradadas?

Nossos projetos de soluções baseadas na natureza se concentram no reflorestamento de uma árvore nativa, a Sabia, que está bem adaptada ao clima semiárido. Hoje, temos dois usos separados da terra que restauram terrenos agrícolas degradados.

  1. Reflorestamento ativo: um projeto de carbono de reflorestamento nativo verificado pela Gold Standard, onde plantamos de 9 a 15 espécies diferentes para fortalecer a biodiversidade.
  2. Manejo florestal sustentável: operações florestais que plantam, colhem e comercializam de forma sustentável a madeira de Sabia para usos que incluem cercas e infraestrutura de plantação.

Esses usos da terra são operados em locais completamente separados, mas ambos são atendidos por um banco de sementes proprietário e um viveiro que tem capacidade para cultivar 2 milhões de árvores por ano.

As diversas fontes de renda fortalecem a sustentabilidade financeira de nossa operação, além de criar mais oportunidades de emprego na comunidade local.

A YMBU lançou projetos ativos de carbono de reflorestamento. Você pode nos falar sobre eles?

Nosso projeto de carbono está listado sob o número Gold Standard GS11648. O “Projeto de Reflorestamento e Conservação da Natureza — Bioma da Caatinga, Ceará” visa reflorestar 600 hectares de terras degradadas, que permaneceriam nesse estado sem a existência dessa iniciativa da YMBU. Cerca de 2 milhões de árvores nativas serão plantadas.

Certificado como um projeto de carbono pelo padrão “Gold Standard 2”, o trabalho é implementado pela YMBU em conjunto com as consultoras de carbono CO2logic/Southpole, da Bélgica, e Mkaarbon Safari, da Alemanha.

O projeto visa:

  • Mitigar os efeitos das mudanças climáticas por meio da captura de carbono, restaurando uma floresta natural e biodiversa, por meio do plantio de espécies locais/nativas;
  • Criar uma área de alta vegetação e alta produtividade na região semiárida brasileira, adotando técnicas adequadas às condições climáticas locais e reconhecendo a aptidão dos recursos naturais presentes na região;
  • Proteger e melhorar a biodiversidade do Bioma Caatinga;
  • Criação direta de empregos, com salários que respeitem o nível do salário mínimo no Brasil ou acima, empregando membros da comunidade local no processo contínuo da semente à árvore.

Quais são os principais desafios que você enfrenta hoje?

Existem muitos desafios enfrentados por empresas como a nossa, que vão desde a disponibilidade de sementes até o financiamento, no entanto, um dos principais desafios atualmente se concentra nos desafios por trás da preparação da terra para a implementação florestal no Bioma Caatinga. A mecanização pode ser difícil considerando a topografia, a presença de rochas e arbustos.

Há períodos específicos durante o ano em que isso é mais adequado, o que significa que nossa equipe operacional precisa ser altamente eficiente em seus esforços. No entanto, é um processo que consome muita energia e pode ser prejudicado pelo mau funcionamento do equipamento.

Devido à nossa localização remota, não temos um grande número de canais para comprar tratores e peças de equipamentos de alta qualidade. Estamos desenvolvendo relacionamentos sólidos com fornecedores locais para minimizar o tempo de inatividade operacional e maximizar a eficiência do plantio.

Ao lançar o projeto de carbono ativo de reflorestamento da Caatinga, você escreveu que “o tipo de crédito de carbono gerado por meio de plantio direto e reflorestamento é o mais valorizado no mercado”. Você poderia explicar por quê?

Falando com os corretores de carbono do mercado, há uma clara preferência por projetos de reflorestamento que restaurem terrenos agrícolas degradados. Nosso entendimento é que esses projetos são valorizados devido ao impacto líquido claro e mensurável no meio ambiente local, convertendo terras improdutivas em ativos de remoção de carbono.

Qual é o impacto de um preço maior (ou menor) dos créditos de carbono em sua organização e nas terras reflorestadas no Brasil?

Em nossa organização, um preço mais alto do crédito de carbono influenciaria nosso planejamento estratégico, dedicando uma proporção maior de terras sob gestão e esforços de reflorestamento a essas atividades. Isso forneceria diferentes formas de fluxo de caixa que complementariam nosso modelo de negócios diversificado. Preços mais altos em geral podem tornar os esforços de conservação mais viáveis no Brasil, permitindo que pequenos proprietários de terras ativem o potencial dos mercados de carbono e os recompensem pela conservação de florestas nativas e ecossistemas.

Qual é a sua opinião geral sobre o sistema de compensação de carbono, com relação específica aos esforços de reflorestamento?

Acreditamos que esforços ativos de reflorestamento e restauração de ecossistemas, em conjunto com práticas sustentáveis, são fundamentais para mitigar os impactos das mudanças climáticas.

A criação do sistema de compensação de carbono tem sido extremamente benéfica para recompensar os esforços de conservação. Tornou-se um trampolim para avaliar e compensar nossos impactos na natureza e nos ecossistemas em todo o mundo. Ao mesmo tempo, à medida que a ciência evolui, é crucial que as estruturas de certificação sejam constantemente verificadas e atualizadas, à medida que mais e mais dados e análises se tornam disponíveis. Como o mercado de carbono prioriza a alta integridade, o capital vai para onde os impactos positivos crescem

Quando olhamos para o futuro, acreditamos que os esforços científicos trarão cada vez mais compreensão dos impactos da vida neste planeta, e os esforços de conservação devem evoluir com nossa compreensão dessas complexidades.

Você tem alguma recomendação ou conselho para empresas que desejam investir em créditos de carbono para reflorestamento?

Primeiro, parabenizamos esta empresa por tomar a decisão de explorar oportunidades nesse espaço. Então, nós os encorajamos a trabalhar duro para filtrar o ruído, desafiar as convenções existentes e realmente entender as reais necessidades dos desenvolvedores de projetos no local. Existem várias maneiras de participar desse setor e muitas delas oferecem oportunidades claras de ganho mútuo para compradores e vendedores. Conseguir isso criará resultados mais fortes de longo prazo em metas sociais, econômicas e ambientais.

Lorie Francheteau
Editora-chefe e gerente de conteúdo
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